FORMAO
CONTNUA DE PROFESSORES DO 1. CICLO NA REA DA MATEMTICA
Em Portugal, a necessidade de o professor continuar a formar-se ao longo da sua carreira, s encontrou reconhecimento institucional no incio da dcada de 90 atravs do Estatuto da Carreira Docente. Em 1996 publicado o Regime jurdico da formao contnua, em que se definem os objectivos da formao bem como as respectivas modalidades (curso, oficina, crculo de estudos, projecto, ). Uma parte da formao que foi feita nesta dcada assentou em programas, na modalidade de curso, que eram definidos pelo formador ou em instituies onde tinha lugar a formao (Instituies de Ensino Superior ou Centros de Formao de Associaes de Escolas ou de Associaes Profissionais). Actualmente existe mais oferta e procura nas outras modalidades de formao, que implicam uma maior relao com as prticas de ensino, porque envolvem a construo de materiais pedaggicos, sua implementao em sala de aula e respectiva reflexo e avaliao.
No entanto, a Matemtica como matria curricular no surge com frequncia nos planos de formao dos Centros de Formao de Associaes de Escolas (Borralho e Espadeiro, 2004). J o estudo emprico Matemtica 2001 (APM, 1998) realizado por um grupo de trabalho da Associao de Professores de Matemtica e que incidiu nas prticas profissionais dos professores de Matemtica, apresenta-nos dados importantes sobre a formao contnua dos professores de Matemtica.
Relativamente ao universo do 1. ciclo, os dados revelam que a maioria dos professores (54%) no tinha participado em nenhuma aco de formao para apoiar a implementao do programa de Matemtica, publicado em 1990 e, dos que afirmaram ter frequentado aces de formao, a sua durao, para 21% desses professores, foi de apenas um dia e para 50% foi de dois a cinco dias.
Acrescem os factos, j por ns salientados, das condies de acesso profisso (na generalidade, os alunos candidatos trazem uma formao matemtica s de 9 anos, com passado escolar de grande insucesso em Matemtica) e de na formao inicial, a componente em Matemtica e didctica da Matemtica ter uma percentagem reduzida de tempo em relao carga horria total (entre 7 e 9,3%).
Em consequncia, a Associao de Professores de Matemtica, j teve oportunidade de apresentar Sra. Ministra um documento em que identificmos pontos crticos e apresentmos algumas propostas, das quais algumas se referem precisamente formao contnua e que a seguir transcrevemos:
Formao contnua
Formao
contnua ainda pouco centrada na reflexo sobre a prtica e que no cobre as
deficincias de formao indicadas no relatrio 2001. Professores do 1 ciclo,
com deficiente formao inicial em Matemtica.
Propostas:
Plano de
formao contnua para professores de Matemtica do ensino bsico do tipo do
que foi feito para o secundrio com a utilizao de acompanhantes locais de
matemtica.
Um
controle sobre o tipo de aces (contedos, metodologias, ) que se propem
para formao contnua e sobre as opes dos professores luz da sua
correlao com as necessidades evidenciadas, resultantes dos diversos
indicadores de avaliao referidos no ponto 4.
Criao
da figura do especialista e de equipas de acompanhamento j referido no ponto
4.
Assim, consideramos de toda a relevncia a implementao de um programa de acompanhamento e formao em matemtica para os professores do 1. ciclo, de longa durao, com uma forte ligao prtica lectiva e centrada nas escolas do 1. ciclo e agrupamentos de escolas.
Prevendo-se um modelo em rede, centrado no trabalho em equipas (por agrupamento), estas devem ser constitudas por professores das Instituies de Ensino Superior, um ou mais professores por agrupamento de escolas e os professores das escolas do 1. ciclo desse agrupamento.
Para assegurar a continuidade da formao nos agrupamentos, fundamental a existncia de professores do 1. ciclo com interveno a nvel de agrupamento, mediadores entre as instituies de ensino superior e as escolas do 1. ciclo, que devem ser seleccionados de acordo com o seu perfil, experincia e formao.
A formao deve integrar aspectos do contedo matemtico com a sua didctica e perspectivas curriculares, bem como as perspectivas em relao avaliao das aprendizagens, valorizando os aspectos formativos.
Deve ser providenciado o apetrechamento das escolas com o material didctico recomendado no programa oficial e no currculo, bem como as publicaes que se considerem relevantes. nas escolas do 1. ciclo, que mais se faz sentir a carncia de recursos especficos para o ensino da matemtica. Os dados do estudo j referido, Matemtica 2001, revelam-nos que, em 1998, apenas estavam disponveis, na generalidade das escolas, alguns tipos de material: os modelos de slidos em 89%, instrumentos de desenho e/ou medida em 80% e material cuisenaire em 72%.
Estamos disponveis para apoiar todas as iniciativas de apoio ao desenvolvimento profissional dos professores.
A colaborao da APM na implementao do programa pode desenvolver-se a diversos nveis e atravs das nossas estruturas internas, como:
- O Grupo de Trabalho do 1. Ciclo
- Grupo de Trabalho de Investigao em Educao Matemtica
- Centro de Recursos
O grupo de trabalho do 1. ciclo que rene periodicamente, coordenado por Cristina Loureiro da ESE de Lisboa e envolve professores do 1. ciclo, muitos dos quais j tm ps-graduaes em didctica da Matemtica e, que pelas tarefas que desenvolvem dentro do grupo (produo de materiais, realizao de encontros, sesses de trabalho, ) esto especialmente interessados no ensino e aprendizagem da Matemtica.
Dentro do Grupo de Trabalho de Investigao em Educao Matemtica, salientamos a existncia de grupos de estudo que envolvem professores de todos os nveis de ensino e se debruam sobre temas pertinentes como A Reflexo sobre a Prtica e O Professor e o Desenvolvimento Curricular com o propsito de promover o trabalho colaborativo de discusso e reflexo sobre a gesto e o desenvolvimento curricular.
O Centro de Recursos da APM disponibiliza publicaes diversas e materiais didcticos, muitos dos quais adequados ao ensino e aprendizagem da Matemtica nos primeiros anos.
Entre as publicaes editadas pela APM, destacamos O Geoplano na sala de aula e Desenvolvendo o sentido do nmero: perspectivas e exigncias curriculares, bem como outras traduzidas do National Council of Teachers of Mathematics, nomeadamente as Normas para o Currculo e a Avaliao em Matemtica Escolar e suas Adendas para os 1., 2., 3. e 4. anos de escolaridade, estando j previsto para Novembro a publicao da traduo da verso mais recente de 2000.
Entre os materiais didcticos, salientamos algumas pastas temticas (Actividades 1. ciclo I e II; a Matemtica de todos; Pavimentaes; Pentamins; ) que incluem propostas de actividades para alunos, com sugestes de explorao pelo professor e indicaes do material adequado (algumas pastas incluem o prprio material).
Outros recursos para os professores esto tambm disponveis na pgina da APM.
A nossa publicao peridica, a revista Educao e Matemtica, tem procurado incluir artigos de ndole terica e outros mais ligados prtica lectiva, englobando todos os nveis de escolaridade, pelo que tambm constitui uma fonte de formao.
Maria Isabel Azevedo Rocha
Presidente da Associao de Professores de Matemtica
Referncias
Associao de Professores de Matemtica (1998). Matemtica 2001 Diagnstico e Recomendaes para o Ensino e Aprendizagem da Matemtica. Lisboa: APM e IIE
Borralho, A. e R. Espadeiro (2004). A formao matemtica ao longo da carreira profissional do professor. Em A.Borralho, C. Monteiro e R. Espadeiro (Org.), A Matemtica na Formao do Professor (pp.279-305). Lisboa : SPCE/SEM