Matemtica no 1 Ciclo do Ensino Bsico alguns contributos para a concepo e implementao de um modelo integrado de formao e acompanhamento dos professores na rea da Matemtica

 

Pressupostos

O conhecimento matemtico dos professores dos primeiros anos um assunto que tem ocupado investigadores h longos anos (Ball, 2001, 2003; Fennema e Franke, 1992; Jaworski, 1999; Ma e Kessel, 2001; Serrazina, 2002; Shifter, 2001; Wood, 1999, entre muitos outros). Entre as muitas investigaes realizadas em vrios pases, duas investigadoras, que articularam trabalhos realizados nos Estados Unidos e na China, evidenciam as seguintes ideias: a matemtica ensinada nos primeiros anos fundamental, no sentido em que apesar de ser apresentada de um modo elementar, constitui os alicerces da futura aprendizagem mais avanada e contm os rudimentos de muitos conceitos importantes, o que leva a que seja importante garantir que os professores deste nvel de ensino tenham conhecimentos matemticos slidos e eficazes; porm, mesmo os professores que possuem uma formao matemtica mais avanada no do garantia de saber lidar com as complexidades de ensinar matemtica elementar (Ball e Ma, 2001). O que todos os estudos apontam e vm evidenciando repetidamente que impossvel desligar o conhecimento matemtico, de que os professores precisam para ensinar bem, do conhecimento didctico que tambm tm de ir adquirindo. Para exemplificar de uma forma simples, ainda que limitada e sem querer reduzir a matemtica ao clculo, no basta saber calcular bem, preciso saber em que situaes e porqu se usa esse clculo, preciso compreender porque se calcula desta ou daquela maneira, e para alm disso preciso saber como se ensina outros a calcular. E preciso saber tudo isto desenvolvendo o gosto por saber calcular e sabendo como se promove e desenvolve esse gosto nos alunos.

Estas ideias apontam para o desenvolvimento profissional destes professores com uma formao matemtica e didctica sempre articuladas, desejavelmente trabalhadas por educadores matemticos.

 

O conhecimento que temos da realidade portuguesa permite-nos avanar que esta no uma plancie. H alguns professores do 1 ciclo que praticam um ensino da matemtica excelente, articulando muito bem conhecimento matemtico e conhecimento didctico. Muitos deles tm vindo a realizar estudos e investigaes em educao matemtica, com bolsas e apoios vrios. Todo este investimento deve ser optimizado e desenvolvido. Para alm destes profissionais, diferenciados academicamente, h muitos professores que se destacam por um especial interesse pelo ensino da matemtica e que julgamos devem vir a ser peas fundamentais no desenvolvimento de um acompanhamento no terreno, consistente e perene, que tenda para uma melhoria de todas as aprendizagens nos primeiros anos.

 

Em nosso entender, uma interveno que venha a promover melhorias nas aprendizagens matemticas dos alunos dever ter em conta vrios aspectos fundamentais:

    conhecimento da realidade do 1 ciclo ao nvel das necessidades dos professores;

    conhecimento de prticas relevantes de professores do 1 ciclo;

    conhecimento da realidade do 1 ciclo ao nvel das aprendizagens dos alunos

    entendimento de que a formao matemtica e didctica no podem estar desligadas;

    conhecimento das novas orientaes em Educao Matemtica, nacionais e internacionais, e que defendem aprendizagens em contextos significativos para os alunos assim como o desenvolvimento de competncias de raciocnio, de resoluo de problemas e de comunicao.

 

Proposta de modelo de formao

Um modelo vivel de formao e acompanhamento, supervisionado pelas ESEs, articular a componente de formao com a componente de superviso e acompanhamento a partir da criao de equipas de trabalho com trs tipos de intervenientes: professores da Instituio de Ensino Superior; professores de 1 linha e professores de 2 linha, cujo papel e perfil enunciaremos a seguir.

 

Encaramos um modelo em rede, centrado no trabalho de uma equipa de professores numa zona constituda por vrios agrupamentos de escolas.

Os ns da rede sero as equipas de trabalho, por zonas de agrupamentos de escolas, sendo estas equipas formadas por um professor de 1 linha e vrios professores de 2 linha, todos professores do 1 ciclo em efectividade de funes. O papel destas equipas ser fazer o acompanhamento de todos os professores da zona de agrupamento de escolas.

As ligaes entre os ns da rede, bem como a superviso das equipas, ser feita pela Instituio de Ensino Superior.

 

Perfil

Papel

Condies

Professores de 1 linha

Experincia actual da sala de aula do 1 ciclo

Mestrado ou ps graduao em Educao Matemtica

Especial interesse pelo ensino da matemtica nos primeiros anos

Superviso dos professores

Realizao de sesses de formao na zona de agrupamentos de escola

Colaborao na produo de materiais com os docentes da ESE

 

Estabilidade na escola

Optimizao dos recursos humanos da escola ou do agrupamento, no sentido deste professor poder trabalhar em par pedaggico

Reconhecimento do estatuto de supervisor

Pagamento de horas de trabalho como formador

Professores de 2 linha

Experincia actual da sala de aula do 1 ciclo

Reconhecido gosto pelo ensino da matemtica nos primeiros anos

Prticas de sala de aula consistentes com as novas orientaes para o ensino da matemtica

Realizao de sesses de formao no agrupamento

Abertura da sua sala de aula aos colegas para observao

Apoio aos colegas para gesto curricular das suas salas de aula

 

Estabilidade na escola

Reconhecimento do estatuto de acompanhante

Pagamento de horas de trabalho como formador

 

 

Papel dos docentes da Instituio de Ensino Superior

Concepo e organizao de materiais de formao e de materiais para a sala de aula.

Realizao de aces de formao para professores de 1 linha e de 2 linha.

Superviso e desenvolvimento da rede de formao.

 

Em sntese

O modelo proposto ser ampliado progressivamente, introduzindo alteraes e melhoramentos resultantes de um processo contnuo de avaliao, atingindo a mdio prazo todos os docentes do 1 ciclo.

 

 

 

 

Lisboa, 20 Maio 2005

 

Coordenadora da rea da Matemtica da ESE de Lisboa

 

 

 

(Cristina Loureiro)