CREATIVE CONNECTIONS

Escola De Aver-o-Mar - Portugal

Região: Póvoa de Varzim
Outras Escolas do mesmo Quad Blog: Oulun Suomalaisen Yhteiskoulun Lukio (Finlândia), Gymnazium Na Zatlance (Republica Checa), Institut Vicenç Plantada (Espanha)
Projeto Creative Connections: Identidade: Nacional e Europeia

Contexto
A Escola EB23 de Aver-o-Mar pertence ao Agrupamento de Escolas de Aver-o-Mar e situa-se no litoral, numa área com ricas tradições relacionadas com as atividades da pesca e da agricultura.
Aver-o-Mar é uma pequena comunidade a 2Km de distância da cidade da Póvoa de Varzim. Nesta localidade habitam famílias de pescadores (que atualmente enfrentam dificuldades económicas e de trabalho), famílias de agricultores (que têm vindo a diminuir progressivamente ao mesmo tempo que a construção ocupa terras agrícolas) e também famílias vindas de diferentes países que imigraram por razões económicas e enfrentam problemas de trabalho e de integração.
O Agrupamento de escolas de Aver-o-Mar tem 1581 alunos, do pré-escolar ao 9º ano do Ensino Básico (96% dos alunos são de nacionalidade portuguesa). Predominantemente são oriundos de famílias de baixo rendimento económico (67% dos alunos recebe apoios sociais).
A escola tem uma boa imagem na comunidade e o abandono escolar é praticamente inexistente. Os resultados da avaliação externa (baseados nos exames de 4º, 6º e 9º ano) são mais baixos do que a média nacional. A distância é 4,6% no 4º ano, 0,9% no 6º ano e 13,6% no 9º ano).

Participantes
Os participantes no projeto são 21 alunos (6 raparigas e 15 rapazes) de uma turma do 9º ano. Todos estes alunos habitam na área geográfica da escola.
No início do ano os alunos foram inquiridos sobre as suas disciplinas preferidas. Entre os alunos participantes no projeto apenas um aluno referiu a disciplina de Educação Visual. A disciplina que recolheu mais respostas foi Educação Física, seguida da disciplina de Língua Portuguesa.

O projeto
A escola de Aver-o-Mar e a professor Paula Dias foram convidadas a participar no Projeto Creative Connections no início de dezembro, após as restantes escolas portuguesas que integram o projeto, em substituição de uma professora de uma outra escola que foi obrigada a desistir por motivos de doença.
A Direção da escola e a professora integraram o Projeto com entusiasmo. A professora tem uma licenciatura em Artes (Pintura) e ela própria é uma artista plástica.
Depois da realização da sessão de formação, a professora propôs que o projeto integrasse o módulo de História de Arte que estava a iniciar. A turma só poderia dedicar ao Projeto um número de aulas limitado, tendo em consideração o programa de Educação Visual do 9º ano. A professora considerou que o currículo constituía um obstáculo e acrescentou que “se o Projeto fosse planeado para o ano letivo seguinte, provavelmente não seria possível, por causa da Reforma Curricular atualmente em curso na qual o currículo de Educação Visual será muito mais rígido e terá menos horas atribuídas no horário”.
Ficou estabelecido que o projeto iria integrar questões relacionadas com a identidade local e a identidade europeia. No que diz respeito à identidade local, desde o início os alunos trouxeram para o Projeto questões relacionadas com a sua identidade enquanto portugueses e enquanto poveiros.
Ficou igualmente estabelecido que outros professores integrariam o Projeto: o professor de TIC que poderia apoiar os alunos a usar as ferramentas do Projeto na internet a o professor de Matemática que é responsável por um club de fotografia para os alunos.
A professora iniciou a primeira aula recordando aos alunos as aulas anteriores, nas quais tinham visionado e analisado obras de arte desde a época medieval até à época contemporânea e introduziu a base de dados da Galeria de Arte do Projeto.
Nas aulas seguintes os alunos trabalharam individualmente e em pequenos grupos, autonomamente, com a supervisão da professora. O papel da professora foi predominantemente orientar, usando o questionamento e o diálogo. As cinco aulas dedicadas ao projeto foram conduzidas num contexto de ateliê livre.
Os alunos realizaram estudos e escolheram entre diferentes recursos e técnicas: pintura, carvão, colagem.
Os estudos basearam-se numa obra de arte selecionada livremente pelos alunos a partir da Galeria de Arte online. Os alunos trabalharam e interpretaram assumindo como ponto de partida a sua identidade como cidadãos europeus, portugueses e poveiros.
Apesar de terem manifestado interesse acerca da nacionalidade dos artistas, e de terem  explorado com interesse as obras dos artistas portugueses, os alunos selecionaram para o seu trabalho obras de arte de artistas de diferentes nacionalidades, nomeadamente:

  • Red Labyrinth, 2004 (Nuno Barreto)
  • Self-portrait, 1968 (José Guimarães)
  • This and This and Little This, 1991 (Jirí Kornatovsky)
  • Znaky/Sings, 1994 (Eduard Ovcácek)
  • Love Song, 2006 (Adel Abidin)

O objetivo da professora era “que os estudantes experienciassem liberdade em todas as fases do projeto: na exploração das obras da Galeria de Arte, na escolha de materiais e técnicas, na escolha em trabalharem individualmente ou em grupo…”
Desde o início do projeto, os alunos trouxeram as características da cultura local para o tema da identidade nacional/europeia. Manifestaram um sentimento de orgulho na especificidade da cultura local. Nas palavras dos alunos “queremos mostrar aos outros as nossas tradições”.
Durante o processo os alunos adquiriram maior consciência sobre o trabalho dos outros e a perspetiva dos outros. Num registo de observação ocasional, o investigador registou: Baseando-se na espiral de Nuno Barreto, dois alunos elaboraram uma outra espiral onde representaram as bandeiras dos países europeus, com um destaque às bandeiras de todos os países que participam no projeto Creative Connections. No centro da espiral representaram a bandeira de Portugal. Durante o questionamento, houve um interessante debate entre os alunos. Como um aluno referiu “o centro teria sido representado de maneira diferente por uma pessoa de outro país; se o centro for o lugar em que estamos, então o centro pode mudar”.

No final do ano escolar os trabalhos realizados pelos alunos foram expostos na sala de Artes e foi planeada uma exposição numa Galeria de Arte da Póvoa de Varzim.

A interação através do blog foi muito limitada nos alunos desta turma. Um dos obstáculos possíveis poderá estar relacionado com os exames finais do 9º ano. Os alunos do 9º ano terminam as aulas mais cedo e as semanas finais do ano letivo são dedicadas à preparação para exames. Depois de terminarem o 9º ano, os alunos transitam para outra escola.

 


A investigação sobre a cultura local: a escrita poveira
Os alunos fizeram uma pesquisa sobre a escrita poveira. As siglas poveiras são um sistema de proto-escrita que foi usado pela comunidade local da Póvoa de Varzim desde há muitas gerações. É um sistema de comunicação visual rudimentar que foi trazido pelos comerciantes Vikings há cerca de 1000 anos atrás, existindo ainda estes símbolos na Escandinávia, onde são designados por bomärken. As siglas eram usadas principalmente como assinatura da família.

As siglas eram usadas fundamentalmente como uma assinatura da família, com o objetivo de marcar os objetos de que eram proprietárias. No passado, esta “escrita poveira” era também usada para registar acontecimentos como casamento, viagem ou dívidas. Os comerciantes usavam-nas nos seus livros de registo. O seu uso muito generalizado estava associado ao desconhecimento do alfabeto latino.

As siglas básicas consistem num número muito limitado de símbolos dos quais derivaram muitas das marcas das famílias; estes símbolos incluíam o arpão, o anzol, o barco e o sarilho. Muitos destes símbolos são muito semelhantes aos que se encontram na Europa do Norte e, geralmente, quando eram pintados nos barcos, tinham uma conotação magico-religiosa de proteção.

Os Poveiros escreviam as suas siglas na mesa da igreja matriz na altura do casamento, como uma forma de registar o acontecimento. Este uso das siglas ainda pode ser visto na Igreja Matriz.

As siglas passavam de pai para o filho mais novo, uma vez que na tradição poveira, o herdeiro é o filho mais novo. Os outros filhos passavam a usar o mesmo símbolo, acompanhado de traços designados por “pique”. Assim, o filho mais velho tinha um “pique” no símbolo familiar, o segundo tinha dois, e por aí adiante, sendo que o último filho não tinha nenhum, herdando assim o mesmo símbolo usado pelo seu pai. O filho mais novo era o herdeiro da família, sendo a ele que cabia tomar conta dos seus pais quando estes envelheciam.

O diálogo com as obras dos artistas
Segundo as reflexões realizadas pelos investigadores e pelos professores, a característica mais saliente do trabalho realizado pelos alunos foi o diálogo que eles estabeleceram com a obra de arte que selecionaram.
Neste processo dialógico, através da leitura das obras de arte, da criação e recriação de significados e da expressão de significados na sua própria voz, os participantes consciencializaram-se da sua existência e das suas conexões com os outros.

As imagens dos trabalhos dos alunos e dos artistas são apresentadas como exemplos desses diálogos.

  1. Liliana + Eduard Ovcacek
  2. Ana & Daniel + José de Guimarães
  3. Ruben & Rita +  Lucie Tatarová
  4. Patrícia + António & Nuno + Nuno Barreto