Região: Viana do Castelo
Outras Escolas do mesmo Quad Blog: Don National School (Irlanda), Escola Serralavella (Espanha), ZS Korunovacni (Republica Checa)
Projeto Creative Connections: Reinterpretação da obra de arte por alunos de 12 aos 13 anos: um estudo no Colégio do Minho
Enquadramento
O presente estudo de caso descreve um projeto realizado no Colégio do Minho em Viana do Castelo – Portugal. Antes de se partir à descrição deste estudo importa caracterizar o contexto educativo onde decorreu. O Colégio do Minho é um estabelecimento de Ensino Particular e Cooperativo onde são lecionados os três ciclos do ensino básico (1.º ciclo - dos 6 aos 9 anos; 2.º ciclo - dos 10 aos 12 anos; 3.º ciclo - dos 13 aos 15 anos). O referido colégio encontra-se localizado dentro do perímetro urbano da cidade de Viana do Castelo sobre a direção do Seminário Diocesano de Viana do Castelo, tendo como principal missão a formação de alunos, segundo os princípios definidos para a Escola Católica. O seu diretor é nomeado pelo Bispo da Diocese e aprovado pelo Ministério da Educação sendo coadjuvado por um seu representante, que desempenha as funções de diretor administrativo. No entanto o Colégio funciona autonomamente. Como princípios centrais orientadores o Colégio adotou o princípio no qual se defende que a educação constitui uma das tarefas principais da cultura promovendo, de uma forma natural, que o homem se possa tornar numa pessoa com múltiplas dimensões espirituais e corpóreas. Desta forma, defende que as crianças devem ser educadas para poderem usufruir do seu desenvolvimento pleno e harmonioso, através das diferentes dimensões: ética, estética e espiritual, conferindo o sentido verdadeiro ao progresso educativo.
A importância que esta instituição atribui à família é também relevante, ao reconhecer a família como primeiro marco da comunidade educativa, olhada como um espaço de formação, afeição e ternura insubstituível, onde se privilegia a importância primordial dos pais na educação das suas crianças e jovens. Acredita-se que a família transmite às suas crianças e jovens a herança biológica e assegura-lhes o crescimento físico, psicológico, afetivo, moral e religioso. Ao Colégio do Minho, enquanto Escola Católica, compete assegurar às crianças e aos jovens o acesso a uma herança cultural mais vasta que vai para além da herança familiar, aprofundando o seu saber, a aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de métodos de trabalho, possibilitando ainda uma formação para a atividade profissional, viabilizando a integração na vida social e propondo o sentido da vida seguindo a fé cristã.
Como cada escola tem a sua singularidade, resultante de uma simbiose que envolve contextos sociais, culturais e económicos, nos quais se insere, e tendo em conta a sua especificidade, torna-se indispensável identificar e analisar as variáveis que figuram no contexto escolar, cuja influência deve ser considerada na elaboração e implementação do projeto. Assim sendo, o Colégio do Minho, por um lado, enquanto instituição, assenta em princípios da Escola Católica tendo por convicção que o homem vale mais por ser autêntico do que pela sua riqueza material. Respeita todos os homens independentemente das suas ideias e ações, num clima de paz, convivência e comunhão entre os povos, com um espírito aberto, dialogante, flexível, alheio a toda a forma de violência. Por outro lado, os pais, os alunos, os professores, o pessoal não docente e o diretor optam por integrar livremente a comunidade educativa do Colégio do Minho e, por isso, têm por missão viver a obra de educar e de se educar, inserindo-se ativamente no seu ambiente imediato para se constituírem como uma verdadeira comunidade educativa cristã. Defende que a responsabilidade tem que ser partilhada para promover o bem de todos de modo a traduzir-se numa participação ativa e ordenada em todas as atividades da escola.
Após esta breve caracterização do Colégio do Minho parte-se à caracterização dos participantes no estudo. A realidade da turma selecionada (8º Ano) é constituída por 28 alunos, sendo catorze do género feminino e catorze do género masculino. A idade dos alunos está compreendida entre os 12 e 13 anos, tratando-se de uma média de idades normal para o 8.º ano de escolaridade. Apesar da sua heterogeneidade, constata-se que a turma é constituída essencialmente por alunos que são colegas desde do 1º Ano, pelo que existe confiança, descontração e interajuda entre eles. Os alunos apresentam características próprias, quer pelos percursos escolares quer pela estrutura no seio social e cultural em que se encontram inseridos.
O professor colaborador, professor no Colégio do Minho, aceitou participar no projeto por considerar tratar-se de um desafio à sua experiência pessoal e profissional, salientando que este projeto seria também uma oportunidade de poder inovar pedagogicamente, bem como, para dar um contributo importante para o enriquecimento da formação dos seus alunos.
Objetivos do estudo
Após a sensibilização e definição conjunta dos objetivos do projeto, o professor participante concordou em abordar a “Reinterpretação da Obra de Arte: técnicas mistas projeto de turma”. O professor encarou a integração neste projeto como uma mais-valia, uma vez que o considerou útil, quer pela interajuda, quer pela proximidade ao seu trabalho artístico permitindo abordar obras suas e de autores de outros países desenvolvendo o sentido crítico e estético do processo de produção artística. Durante o processo promoveu discussões abertas, procurando o diálogo singular com a Cidadania e as Artes Visuais, promovendo a capacidade de confrontar as experiências ou sucessos nas tarefas de aprendizagem de forma eficaz ao longo do percurso educativo. Desta forma, pretendia incentivar mudanças e o questionamento das práticas pedagógicas através de um olhar diferenciado com espaços inovadores de aprendizagem, desenvolvimento de competências e formação de alunos e professores. O projeto teve início em meados de novembro de 2012 tendo terminado em meados de abril de 2013.
O estudo
Após a apresentação do projeto “Creative Connections” foi traçada e elaborada a descrição da unidade de ensino desenvolvida para esclarecer o seu funcionamento de modo a que a turma/comunidade escolar se pudesse envolver no mesmo. Ao tratar-se de um intercâmbio entre escolas de diversos países, no qual, se partia de uma determinada temática, se partilhavam informações (imagens/trabalhos, vídeos, textos, músicas, etc.) dirigidas para o questionamento de aspetos relacionadas com a cultura, arte e cidadania, pretendia-se alargar o saber específico e partilhado de cada um dos seus participantes a outros contextos, comportamentos sociais, diferentes olhares sobre a aplicação de técnicas diversificadas e alargar o conhecimento a diferentes obras artísticas.
A unidade de trabalho realizada designou-se por “Reinterpretação Obra de Arte: técnicas mistas projeto de turma” apresentando os seus participantes: os pré-requisitos para o desenvolvimento do projeto; os instrumentos de recolha de dados a serem utilizados; o formato da comunicação oral do tema proposto e do projeto individual; técnicas mistas (grafite; carvão e tinta-da-china; guache/acrílico; colagem; etc.) a realizar ao longo da unidade didática; e formas de comunicar os resultados obtidos. A estratégia pedagógica e didática centrou-se numa atividade experimental diversificada e transversal (uso alternativo de diferentes meios, suportes, materiais).
A apresentação e projeção multimédia foi efetuada recorrendo a exemplos de imagens de artistas contemporâneos, representativas do tema proposto (exemplos práticos que expõem e estimulam a proposta de trabalho) com diversidade gráfico-pictórica. Numa primeira fase, face ao tema proposto foram realçados os aspetos fundamentais na representação da figura humana. Numa segunda fase, cada aluno efetuou uma análise recorrendo ao desenho com referência à introdução de técnicas mistas: características técnicas e plásticas; revisão dos materiais e procedimentos, de modo a possibilitar a utilização por parte do aluno de diferentes meios de representação gráfica; analogia entre o desenho-processo (esboços/estudos) e o desenho-objeto (painel políptico).
Foram efetuadas experimentações prévias das diferentes técnicas e demonstrações pontuais em diferentes suportes. Este exercício permitiu o diagnóstico, identificar o domínio das técnicas que os alunos possuíam da linguagem visual e estética, assim como, observar a maturidade do desenho dos elementos da turma.
Na fase final foram debatidas todas as atividades levadas a cabo, promovido um debate sobre as atividades desenvolvidas e estruturado um breve resumo sobre o tema abordado.
O tema desenvolvido pelo professor foi trabalhado numa perspetiva cooperativa com o objetivo de aproximar os alunos e conhecer a realidade de cada um, considerando que deviam abraçar a universalidade de ideias e projetos, experiências e culturas, atribuindo sentido e significado aos conteúdos tratados, uma vez que, segundo Barbier (1993), o projeto contribui para promover a mudança na medida em que leva à identificação dos diferentes elementos presentes nas situações que se pretende mudar, à análise da dinâmica dos processos implicados, produzindo saberes ou relações entre os factos e ainda estimula a produção de representações que conduzem à possível mudança.
Alguns resultados
Os resultados do estudo permitiram concluir que os alunos apresentaram uma boa recetividade ao projeto. Após apresentação da proposta e das várias trocas de opiniões organizaram-se ideias e foi delineado o projeto com muito entusiasmo.
A proximidade criada entre o professor e alunos permitiu a criação de um clima de cumplicidade entre as partes envolvidas o que veio favorecer o ambiente vivido na sala de aula (fig. 1). A referida recetividade, exposta por parte dos alunos, ajudou a valorizar as qualidades inerentes a cada um e a diagnosticar algumas dificuldades que permitiram definir estratégias para a promoção de conhecimentos com os quais os alunos se identificaram a nível individual, cultural e social.
Fig. 1: Envolvimento dos alunos nas tarefas propostas (image1+image2+image3)
As competências, conhecimentos e atitudes resultantes da participação no Projeto Creative Connections permitiram a valorização e internacionalização dos trabalhos realizados pelos alunos (fig. 2), indo ao encontro dos objetivos gerais traçados para o projeto global, nomeadamente: desenvolver o conhecimento e sensibilizar os jovens e a comunidade educativa para a diversidade e valor das culturas e línguas europeias; ajudar os jovens a adquirir as competências básicas de vida, necessárias ao seu desenvolvimento pessoal, à sua futura vida profissional e a uma cidadania europeia ativa; a nível mais operacional: incentivar a aprendizagem de línguas estrangeiras; melhorar em termos qualitativos e aumentar em termos quantitativos a mobilidade de alunos e de pessoal educativo e as parcerias entre escolas nos diferentes Estados-membros da União Europeia.
Fig. 2: Exemplos de trabalhos realizados pelos alunos (image4+image5+image6+image7)
O envolvimento/aceitação do Colégio do Minho no Projeto Creative Connections foi considerado pelos seus dirigentes como um projeto pertinente e com muita utilidade. Assim sendo, foi apoiado e defendido por ser um projeto com ideias adequadas a “uma educação ativa”, a um ensino de características práticas e experimentais cuja natureza educativa se pauta pela diversidade.
Relativamente à exploração da base de dados de obras de arte existentes na plataforma digital do projeto evidenciou-se, de um modo geral, um menor envolvimento por parte dos alunos, uma vez que os acessos à plataforma não eram efetuados com muita regularidade e de forma espontânea. Este aspeto deveu-se, fundamentalmente ao elevado número de horas em que estes alunos estão envolvidos em tarefas escolares condicionando-os o tempo livre para a realização de outras tarefas. No entanto, o Projeto Creative Connections permitiu ajudar os alunos a abordarem a arte de forma mais eficaz e experimental (plataforma digital), compreendo como a identidade cultural é sentida e expressa pelos artistas nas respetivas obras. Contudo, os trabalhos obtidos foram expostos e explicados nas sessões de trabalho agendadas, bem como alvo de partilha por toda a comunidade escolar.
A ligação da temática selecionada e a europa teve em linha de conta uma prática-chave, quer pelo tema quer por uma enorme recetividade do grupo para o projeto. Estabeleceu-se uma nova experiência relevante tanto para a pedagogia da Nova Escola como para a autopromoção dos alunos na sua vida futura direcionada para um currículo artístico. Provavelmente o envolvimento com ideias, opiniões, questões nos media/blogs (interação com os alunos da comunidade europeia) despertou em menor pluralidade na sua abordagem.
Algumas reflexões
Com a implementação do Projeto Creative Connections e após análise e reflexão podemos inferir que a arte contemporânea pode ser uma mais-valia na concretização e promoção de espaços de aprendizagem significativos aleados a fatores sociais e humanos. Ao longo da implementação das diferentes fases do projeto e conscientes das enormes potencialidades, uma vez que não foram esgotadas todas as potencialidades do mesmo, permitiu refletir sobre a pertinência da aprendizagem da arte contemporânea no contexto sociocultural atual e sobre a forma como esta mesma arte pode fornecer aos alunos um conjunto de ferramentas que os ajudam a lidar com a realidade, proporcionando, simultaneamente, uma postura crítica relativamente aos problemas que esta lhes coloca. Assim sendo, apesar de aliando ao currículo o programa bastante vasto e flexível é possível enriquecer a prática pedagógica da arte contemporânea reduzida às margens da escola, podendo vê-la num espaço de liberdade, não da arte contemporânea, mas para a arte contemporânea.
Dada a aceitação e concordância entre todos os participantes sobre os ganhos e pertinência do projeto, o ambiente político, económico e cultural, deverá proporcionar e fomentar uma interação equilibrada entre as dimensões conceptual e prática/experimental do conhecimento e dos saberes de um projeto, que conduza à assimilação dos conteúdos; por outro lado, deve ser promovida uma aprendizagem baseada na diversidade de experiências e atividades através do decurso de diferentes meios, processos de trabalho e matérias. Esta interação gerada no desenvolvimento de metodologias ativas, cria situações que conduzem a tomadas de decisão que levam a repensar situações e processos práticos.
Ana Peixoto e Carlos Almeida, Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Dezembro de 2013