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Estudo Morfofuncional da Criança Vianense.
Valores
normativos de crescimento, morfologia e aptidão física Luís Paulo Rodrigues, César Sá, Pedro Bezerra, e Linda Saraiva Departamento de Motricidade Humana Escola Superior de Educação | Instituto Politécnico de Viana do Castelo Novembro 2006 ! INÍCIO | INTRODUÇÃO | MORFOLOGIA | APTIDÃO FÍSICA | CONCLUSÕES | BIBLIOGRAFIA | APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE APTIDÃO FÍSICA Abdominais em 60 segundos (ABD) Tempo de Suspensão na Barra (TSB) Salto em Comprimento sem Corrida Preparatória (SCP) Corrida de Resistência em Vai-vem de 20 metros (CVV) Corrida de Agilidade 4x10 metros (Shuttle Run) (SHR) Senta-e-Alcança (Sit-and-reach) (SR) Neste capítulo apresentamos os resultados relativos aos testes de Aptidão Física. A bateria de testes efectuada (ver descrição no anexo A) compreendeu os testes de abdominais em 60 segundos (ABD), o tempo máximo de suspensão na barra (TSB), o salto em comprimento sem corrida preparatória (SCP), a corrida de resistência em vaivém de 20 metros (CVV), a corrida de agilidade 4x10 metros (SHR), a corrida de velocidade em 50 metros (C50), e o teste de flexibilidade sit-and-reach (SR). Para cada um destes testes apresentamos em primeiro lugar a representação gráfica e tabular dos valores médios e de desvio-padrão para ambos os sexos. Seguidamente podem ainda ser consultados os valores da distribuição percentílica (percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95) por sexo e idade. A análise efectuada aos dados recolhidos centra-se na descrição e comparação dos percursos de desenvolvimento para os rapazes e raparigas. Para tal foram utilizados valores recolhidos na população portuguesa em estudos contemporâneos com valores amostrais grandes e que utilizaram testes iguais aos nossos, nomeadamente o Estudo de crescimento da Madeira (Freitas, 2002), o Estudo do crescimento somático, aptidão física e capacidade de coordenação corporal de crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico da Região Autónoma dos Açores (Maia et al., 2002, 2003, 2006), e o Estudo de Crescimento da Maia (Pereira, 2000). Nas referências internacionais procuramos utilizar os valores das baterias que integram actualmente estes testes de ApF, designadamente o President’s Challenge Physical Fitness Tests (PPF, 1987), a AAHPERD Health Related Physical Fitness (1988), e o Fitnessgram (1999). Poder-se-á assim perceber melhor qual a situação actual das crianças Vianenses, quer quanto ao panorama nacional, quer no contexto internacional. Parece-nos importante referir que a informação sobre a aptidão física de crianças entre os 6-10 anos não é grande, já que a maior parte das baterias iniciam as suas tabelas normativas aos 9-10 anos.
Abdominais em 60 segundos (ABD)
Quadro 35 – Número de crianças (n), média (M)e desvio-padrão (DP) no teste ABD entre os 6 e os 10.5 anos.
Figura 25 – Valores médios no teste ABD entre os 6 e os 10.5 anos
Figura 26 – Representação percentílica do teste ABD (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 36 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do teste ABD para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Os rapazes realizaram, em média, um maior número de abdominais do que as raparigas, e esta diferença aumentou com a idade. Nas raparigas o desempenho melhorou apenas até aos 7.5 anos, após o que estabilizou por volta das 25 execuções. No sexo masculino o desempenho aumentou até mais tarde (10 anos), parecendo depois sofrer um fenómeno idêntico ao do sexo feminino com um retrocesso aos 10.5 anos que poderá eventualmente significar uma estabilização mais tardia da performance. Este comportamento da evolução média é melhor decifrado quando se analisam as curvas percentílicas (figura 26). De facto o que verificamos é que as prestações acima do p50 demonstram tendência para aumentarem sempre, mas as que se situam abaixo do p50 estabilizam a partir dos 8 anos, existindo mesmo um decréscimo nas raparigas. Isto parece significar que, apesar de ser relativamente normal as crianças conseguirem aumentar a sua prestação de força abdominal com a idade, isto apenas acontece para quem é capaz de um desempenho médio ou acima da média. Para os que sentem dificuldades as melhorias associadas à idade são nulas, ou mesmo negativas (principalmente nas raparigas) logo a partir dos 8 anos, o que é preocupante. Comparativamente aos valores de referência para a população infantil Norte-Americana (quadro 37), as nossas crianças apresentam valores médios mais baixos a partir dos 8-9 anos, atingindo aos 10 anos diferenças de cerca de 4 a 5 abdominais a menos para ambos os sexos.
Tempo de Suspensão na Barra (TSB)
Quadro 38 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste de suspensão na barra entre os 6 e os 10.5 anos.
Figura 27 – Valores médios no TSB entre os 6 aos 10.5 anos.
Figura 28 – Representação percentílica do TSB (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 39 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do TSB para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Neste teste, indicador da força superior, os rapazes obtiveram sempre melhores resultados médios que as raparigas e demonstraram tendência para melhorar com a idade (apesar de uma curiosa configuração de retrocessos e avanços de seis em seis meses). As raparigas praticamente mantêm a sua prestação média, não evidenciando mostras de melhoria com a idade. É necessário no entanto explicar que os valores apresentados no quadro 38 e figura 27 não representam as médias aritméticas (normalmente apresentadas) mas sim médias robustas (estimadas pelo procedimento Huber's M-Estimator). Ao observarmos os dados da distribuição percentílica (fig 28 e quadro 39) vemos que nos rapazes apenas as prestações mais baixas não parecem melhorar com a idade, enquanto nas raparigas este fenómeno é generalizado, acontecendo mesmo que as melhores prestações (percentis mais elevados) tendem a diminuir ligeiramente com a idade.
É também interessante verificar que a população infanto-juvenil Vianense apresenta desempenhos bastante superiores aos valores de referência para a população norte-americana e aos valores nacionais das crianças madeirenses.
Salto em Comprimento sem Corrida Preparatória (SCP)
Quadro 41 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste SCP entre os 6 e os 10.5 anos.
Figura 29 – Valores médios no teste SCP entre os 6 e os 10.5 anos
Figura 30 – Representação percentílica do teste SCP (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 42 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do teste SCP para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
A diferença de prestação entre os dois sexos nesta prova foi sempre favorável aos rapazes, mantendo-se estável até aos 9.5 anos e aumentando ligeiramente a partir daí, muito devido à maior inflexão no desempenho por parte das raparigas. De facto, após um período em que as prestações aumentam sempre em cada período de seis meses (fig 29), existe uma clara diminuição do desempenho que parece afectar sobretudo (ou pelo menos mais cedo) as meninas. Observando as curvas percentílicas representadas em intervalos de ano completo (fig. 30), confirmamos que os rapazes mostram evoluir sempre de ano para ano na sua prestação, independentemente de saltarem pouco ou muito. Já no grupo das raparigas apenas aquelas que saltam mais (acima do p75) continuam a melhorar os seus desempenhos ao longo dos cinco anos, enquanto todas as outras estabilizam a dado momento. A tendência parece indicar que quanto mais baixa for a prestação menor é o incremento ao longo das idades, originando assim um maior fosso entre as raparigas mais e menos proficientes nesta tarefa.
As nossas crianças apresentam valores bastante semelhantes às crianças açorianas mas, comparando com os valores recolhidos no concelho de Maia, constatamos que apresentam resultados superiores e que esta diferença se acentua ao longo da idade (cerca de +17.5-19 cm aos 9 anos). Inversamente, as crianças madeirenses apresentam valores médios superiores às crianças Vianenses atingindo diferenças aos 10 anos na ordem dos 9 cm para os rapazes e dos 15 cm para as raparigas.
Corrida de Resistência em Vai-vem de 20 metros (CVV)
Quadro 44 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste CVV entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 31 – Valores médios no teste CVV entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 32 – Representação percentílica no teste CVV (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 45 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 no teste CVV para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
A corrida de resistência em vai-vem de 20 metros é considerada um excelente teste marcador para a resistência cardiovascular. Trata-se de uma prova de esforço progressivo em que o ritmo de corrida de cada percurso de 20 metros é normalmente marcado por um sinal sonoro externo (ver descrição no anexo A). Esta prova é ainda pouco utilizada com crianças abaixo dos 10 anos de idade, devido à dificuldade de cumprir os ritmos marcados. No nosso caso pensamos ter resolvido este problema com a utilização de um adulto que corria durante toda a prova a marcar o ritmo pretendido. Os rapazes evidenciaram um aumento generalizado da prestação média até aos 10.5 anos, enquanto as raparigas parecem estabilizá-la por volta dos 9.5 anos (fig 31). A prestação das meninas foi sempre inferior à dos rapazes, com a diferença a tornar-se mais relevante com o passar da idade. Observando a distribuição percentílica (fig 32) percebemos que o fosso entre os melhores e os piores desempenhos aumenta à medida que as idades também aumentam, e mais uma vez é na parte inferior da distribuição (nas crianças com pior prestação) que as melhorias são menos visíveis ou quase nulas. Ao analisarmos os valores critério recomendados pela bateria de testes do Fitnessgram, concluímos que quase todas as nossas crianças aos dez anos (86.6% dos rapazes e 90.9% das raparigas) se apresentam dentro ou acima dos limites recomendados como a zona saudável da aptidão aeróbia (23-61 para rapazes; 15-41 para raparigas).
Quadro 46 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste C50m entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 33 – Valores médios no teste C50m entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 34 – Representação percentílica do teste C50m (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 47 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do teste C50m para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
O que se constata claramente pela análise das médias por idade (figura 33) é que o comportamento dos dois sexos nesta prova é bastante semelhante. Após um primeiro momento (6 – 6.5 anos) em que a prestação se mantém segue-se uma melhoria (embora ligeira) da velocidade com a idade, tornando a estabilizar dos 9.5 aos 10.5 anos. Os rapazes são sempre mais rápidos que as raparigas, o que é bem evidente pelas curvas médias e percentílicas, com as melhorias dos tempos médios entre os 6 e os 10.5 anos a cifrarem-se em cerca de 2 segundos. Pela análise das curvas e dados percentílicos percebe-se mais uma vez a grande diferença entre sexos. É ainda importante mencionar que nesta prova a dispersão de valores (diferença entre os mais rápidos e mais lentos) se mantêm ao longo das idades estudadas e nos dois sexos.
Estes valores são muito semelhantes aos
encontrados na população infantil do concelho da Maia (quadro 48) onde
se verificou também uma melhoria da velocidade com o avançar da idade
em ambos os sexos. Corrida de Agilidade 4x10 metros (Shuttle Run) (SHR)
Quadro 49 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste SHR entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 35 – Valores médios no teste SHR entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 36 – Representação percentílica do teste SHR (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 50 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do teste SHR para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Na prova de agilidade (shuttle run 10 metros) encontramos praticamente a mesma tendência registada na corrida de 50 metros em velocidade. Os rapazes são mais proficientes que as raparigas em todas as idades, e ambos os sexos registaram valores idênticos nas duas primeiras idades testadas (6 e 6.5 anos). Nos últimos três momentos de testagem (9 aos 10.5 anos) as prestações estabilizam e começam mesmo a piorar, o que pode indiciar um retrocesso do desempenho associado a este período de desenvolvimento. Comparativamente, as crianças Vianenses apresentam valores médios muito semelhantes quer quanto aos valores recolhidos no concelho da Maia, quer relativamente aos dados de referência internacional (quadro 51).
Senta-e-Alcança (Sit-and-reach) (SR)
Quadro 52 – Número de crianças (n), média (M) e desvio-padrão (DP) no teste SR entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 37 – Valores médios no teste SR entre os 6 e os 10.5 anos de idade.
Figura 38 – Representação percentílica do teste SR (p05, p10, p25, p50, p75, p90, p95) para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
Quadro 53 – Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 do teste SR para o sexo masculino e feminino entre os 6 e os 10 anos de idade.
O teste de flexibilidade da coluna - sit-and-reach - foi o único em que a prestação diminuiu com a idade (apesar de pouco) em ambos os sexos, e em que as raparigas foram mais proficientes que os rapazes. A análise da distribuição percentílica (fig 38 e quadro 53) permite-nos no entanto verificar que o retrocesso no desempenho se sentiu principalmente nas crianças com pouca flexibilidade (percentis mais baixos), enquanto as que se situaram no p50 ou acima parecem conservar os níveis de flexibilidade.
Quadro 54 – Valores médios no teste SR de crianças madeirenses e de referência para a população norte-americana.
Os resultados mostram que em ambos os sexos os níveis de flexibilidade são muitos semelhantes aos valores de referência para a população norte-americana. Comparativamente com os valores médios nacionais, as crianças Vianenses apresentam resultados superiores às crianças madeirenses registando-se uma diferença de 6.5 -7.5 cm aos 10 anos de idade.
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Rodrigues L, Sá C, Bezerra P, Saraiva L (2006). Estudo Morfofuncional da Criança Vianense . Viana do Castelo: CMVC. |